Crise do plástico estimula produtos descartáveis alternativos, porém esta pode não ser a solução ideal para o meio ambiente.

Existe um movimento mundial que procura acabar com os plásticos descartáveis. Uma série de novas leis foram feitas com esse objetivo. Cidades, estados e até países inteiros estão se movendo para proibir tudo: desde sacolas plásticas e canudos de plástico a recipientes plásticos de comida e utensílios para viagem.

Muitos municípios também já recomendam que os restaurantes e cafés mudem seus produtos para viagem para plásticos compostáveis ou feitos com material ​​à base de plantas. Mesmo em áreas onde não são incentivados por lei, os chamados bioplásticos são um negócio em expansão. Algumas empresas de alimentos e restaurantes fizeram a mudança voluntariamente como parte de seus planos de sustentabilidade. É bom ser capaz de fazer as pessoas se sentirem bem em jogar algo fora, mas, na verdade, não estamos mudando nossos comportamentos ou padrões.

Os compostáveis são uma solução?

Embora muitos tenham depositado suas esperanças nessas alternativas, alguns pesquisadores e recicladores alertam que uma dependência excessiva de utensílios de mesa e embalagens compostáveis ​​pode não ser a solução que parece ser. Nas avaliações do ciclo de vida, verifica-se que os compostáveis ​​não superam necessariamente os plásticos no que diz respeito aos benefícios ambientais. 

E um aumento de compostáveis ​​no fluxo de resíduos poderia, de fato, bagunçar o processo de compostagem. Isso significaria criar mais lixo e continuar o vício dos consumidores por itens de uso único, prejudicando as práticas mais benéficas para o meio ambiente como a redução e a reutilização.

Crise estimula bioplásticos

Os últimos anos marcaram um aumento na conscientização sobre os impactos prejudiciais da poluição do plástico. O plástico obstrui cursos de água, flutua ao longo da superfície do oceano, mata a vida marinha e a vida selvagem. A maior parte do plástico do mundo não é reciclado. Em 2018, até mesmo os 9% de plástico que são reciclados passaram a ser ameaçados, depois que a China proibiu a importação da maioria dos plásticos e outros materiais que costumava aceitar.

O país decidiu parar a importação para a reciclagem devido a problemas de contaminação de lixo. A maior parte do plástico deste plástico que deveria ser reciclado está sendo depositado em aterros ou incinerado. O dilema da reciclagem levou a uma busca ainda mais urgente por soluções, daí a virada para os bioplásticos. 

O bioplástico não desaparece sozinho

Muitos produtos são chamados de compostáveis ​ou biodegradáveis, mas este é um nome impróprio. Estes materiais não se decompõem sozinhos no ambiente ou em caixas de compostagem de quintal. Eles precisam ser processados em instalações industriais para desaparecerem. Atualmente, não existem instalações de compostagem suficientes no Brasil para processar o uso de bioplásticos em grande escala. Então o que adiantaria fazer a troca para outro material que também não desparece? 

A chamada à ação da indústria de produtos compostáveis ​​é baseada na ideia de que o uso de pratos, copos, talheres e embalagens compostáveis ​​fará com que os consumidores mitiguem o impacto climático do lixo que é depositado nos aterros a cada ano. O problema é encorajar as pessoas a mudarem para um modelo circular onde esses materiais podem se quebrar e voltar a alimentar os solos quando, na verdade, isso não vai acontecer por falta de locais adequados para o processamento deste material.

Falhas no sistema

Algumas embalagens compostáveis projetadas para conter alimentos úmidos ou gordurosos contêm os chamados “produtos químicos para sempre”. São materiais altamente tóxicos chamados PFAS, que podem ser transferidos para o composto acabado e contaminar o solo e a água.

Desperdício zero nem sempre é igual à sustentabilidade

Mesmo que a contaminação não fosse um problema tão grande, outras questões importantes sobre o valor da compostagem surgiram nos últimos anos. O que está faltando na discussão é o impacto de fazer esses itens compostáveis. O fato de algo ser compostável é um indicador pobre de impacto ambiental. Os compostáveis ​​apresentam um conjunto de compensações olhando apenas para o resultado. A preocupação gira apenas em torno da pergunta:  isso gera resíduos?

Para avaliar essa situação corretamente, é preciso uma análise completa do ciclo de vida. Isso inclui avaliar as matérias-primas utilizadas, o processo de fabricação, o sistema de transporte e o que acontece com os resíduos. A produção e o uso de materiais compostáveis​ (e a compostagem) podem causar impactos ambientais maiores do que os de materiais não compostáveis ​​ou materiais compostáveis ​​tratados por meio de reciclagem, aterro ou incineração.

Os impactos do descarte

Jogar lixo no aterro sanitário é ruim, mas a maior parte do estrago já foi feito no momento da compra. Embora muitas pessoas se concentrem nos impactos do descarte, os impactos ambientais da produção de materiais podem ser 10, 50 ou 100 vezes maiores do que os impactos do descarte.


Tudo depende dos materiais de origem, embalagem e processo de produção. Alguns itens compostáveis ​​têm baixo impacto, enquanto outros, alto impacto, mas a indústria não fornece informações detalhadas sobre os detalhes para que os consumidores possam fazer uma escolha.

Conclusão

Xícaras, recipientes e talheres reutilizáveis ​​também exigem recursos brutos e energia para serem produzidos, portanto, eles devem ser usados ​​de forma consistente para compensar seu impacto ambiental. Sem os locais adequados para realmente fazer a compostagem industrial de estes novos produtos, não faz sentido trocar o plástico comum por eles. ­­­­